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Sobre o riso

O riso vem sendo amplamente discutido ao longo dos anos. Filósofos, antropólogos, historiadores, linguistas, dramaturgos, sociólogos e psicólogos estudam o risível, concordando em um ponto: o riso é humano. Apenas o homem é capaz de rir, e só ri daquilo que é humano, ou seja, de si mesmo. O homem é sujeito e objeto do riso. Isso porque o risível está naquilo que é rígido e mecânico na vida, nos absurdos do cotidiano que nem notamos. E aqueles que geralmente notam essa rigidez são dotados de uma visão diferente do mesmo, vendo novidade e surpresa no cotidiano. Vendo graça e com graça as desgraças. Com essa visão, aparece a possibilidade de dizer o não dito, ou o que não seria socialmente aceito se dito de forma séria, contemplando, assim, uma forma de descrever e criticar a sociedade e a cultura em que vivem. Mesmo que “sem querer querendo”.


E do que se ri? Dos costumes sociais, do automatismo e da rigidez (de pensamento e comportamento). O exagero, a incongruência, o inesperado e o absurdo da vida cotidiana despertam riso. Tudo isso pode estabelecer um campo de crítica e reflexão, dando uma função ao riso. Mas dar significado é torná-lo sério, é entende-lo e usá-lo com uma função social corretiva de erros e vícios. Já o riso instintivo, rir por prazer, pode ser uma forma que usamos pra elaborar o absurdo da vida.


Rir precisa de eco. Isso porque apreensão e a construção de uma piada é influenciada pelo outro (plateia). O outro, objeto e sujeito da piada, participa da produção e determina o resultado pelo riso. E isso acontece porque o riso é feito para o outro e à custa do outro. É uma coprodução. O riso é feito a partir da percepção que se tem da realidade e das coisas, utilizando sensibilidade e intuição para desvelar o risível presente no cotidiano e nas situações. Suas principais causas são as ideias de surpresa e superioridade e seus temas principais, além do cotidiano, são o preconceito, o politicamente incorreto e a (auto)depreciação. E são campos férteis para piadas porque o riso também é cruel. Uma crueldade usada para um bem maior: o alívio do cotidiano ou como defesa. Porque não há melhor defesa do que uma piada. Afinal, se a pessoa ri, por que seria ruim, né?

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