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O mito do amor materno (na prática)

Meu filho tinha 2 semanas quando minha sogra veio visitar e perguntou "Não é o maior amor do mundo, Fernanda?" E eu me vi num breve conflito: minto falando o que ela quer ouvir ou falo a verdade? Falei a verdade (pq se tem uma coisa que puérpera tem é pouca paciência com os outros. Toda nossa paciência é só pro filho). Respondi "Não sei. É mais um sentimento de responsabilidade e cuidado do que amor". Eu ainda nem amava meu filho. Pelo menos não sentia que amava. Afinal, com duas semanas é tipo amar um estranho. Um estranho que saiu de vc, mas um estranho.


Amigas tb perguntavam "tá apaixonada?" Ou "vc já ama muito ele?" No fim de semana ganhei um olhar horrorizado pq comentei que nunca chorei ao ouvir o coração do meu filho nos exames de ultrassom🤷‍♀️


Vejam que, por mais discreto que seja, existe uma cobrança e uma expectativa social sobre o amor de mãe, o amor incondicional. 

Se segura na cadeira, que vou te contar uma verdade: amor incondicional não existe!😱 nem com seu filho😱 E esperar que ele exista faz muitas mães sofrerem e se sentirem culpadas. O amor de mãe é imperfeito, ambivalente e nada instintivo. Cada mãe tem seu processo, cada mãe tem seu vínculo com o filho e seu tempo pra amar. Tem mãe que já ama antes de engravidar, mãe que ama no primeiro ultrassom, mãe que ama no parto, mãe que ama na amamentação e tem a mãe que vai construindo esse amor, menos idealizado. Uma hora chega. E se não chegar? Que fique, pelo menos, a responsabilidade por uma vida gerada e o cuidado de um ser indefeso e dependente que não pediu pra existir. Eu sempre fui do time que o amor vem com a convivência, é construído e nutrido, não vem do "nada", da fantasia.


Fato é: amor de mãe quanto menos idealizado melhor (pra todos os envolvidos). Lembrando que, mesmo amando seu filho, tem momentos que vc não vai amar. E tudo bem. Ele é um ser humano, e como todo ser humano, pode ser muito frustrante lidar com ele às vezes (ou muitas vezes🙈). Além disso, é impossível (psiquicamente falando) amar sem odiar. Precisamos das polaridades/ambivalência. Então, que nos permitamos sentir o que sentimos, reconhecendo que amar não é uma obrigação nem pré requisito pra ser (boa) mãe!


PS: cuidado e responsabilidade é amor.

PS2: demorei uns 4-5 meses pra amar meu filho, aquele amor de preencher o peito e dar vontade de chorar.


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